A Serra da Ibiapaba, o outro ponto visitado pelo padre Antônio Vieira, não guarda muitos resquícios do passado, segundo avalia o navegador e professor António Abreu Freire. O jesuíta português chegou ao local, onde hoje está localizada a cidade de Viçosa do Ceará, no dia 23 de março de 1660. Segundo os relatos de Pe. Vieira, a beleza natural da serra era tamanha que comparou a uma verdadeira "antevisão do céu".
Interessante lembrar, conforme Freire, que a chamada "Missão da Ibiapaba" foi, na verdade, resultado da rebeldia do padre Vieira. "Ele contrariou as diretivas do provinçal do Brasil, que mandou por várias vezes que os padres deixassem a serra e passassem para o Maranhão. Mas, o religioso mostrava teimosia e persistência em transformar a região numa zona segura de obediência ao rei e às normas do reino". Sua obstinação deu origem ao aldeamento indígena da região.
Clima suave
O navegador português explica que o interesse pela Serra da Ibiapaba, que era habitada por inúmeras comunidades indígenas, existe desde os primeiros tempos da colonização por algumas razões ligadas à natureza: suavidade do clima, riqueza da terra e facilidade de navegação para o reino.
O acesso ao íngreme local acontecia a partir de Camocim, navegando pelo rio até a vila de Granja e depois iniciando a subida da serra até a cidade atual de Viçosa do Ceará.
Para mostrar a importância que o Rio Coreaú tinha no passado, Freire argumenta que, "em todos os mapas holandeses, franceses e italianos posteriores a 1595 aparece mencionado o Rio Camuci ou Rio da Cruz (hoje, Coreaú) e em alguns deles o "forte de St François (São Francisco)", testemunhando assim a posição e a importância estratégia desse rio que permitia a entrada de grandes navios e a navegação até pelo menos duas léguas pelo interior das terras, o que nós pudemos comprovar ao fazer o trajeto com o CHIC.
O escritor do "Diário de Bordo" descreve assim em seu livro a aldeia que, em 1759, se chamava Vila Viçosa Real, que passou à condição de cidade em 1882 e, atualmente, é Viçosa do Ceará: "trata-se de uma verdadeira pérola preciosa do continente americano, fresca, airosa, rica, bonita e asseada. Vale salientar que uma das aldeias do Município ostenta o nome do padre Vieira, em sua memória".
O navegador, em seu diário, escreve como encontrou Viçosa, no dia 30 de agosto (2007): "o que podemos fotografar deste espaço de Vieira é a importância da serra, a sua ímpar beleza natural, a riqueza da sua produção agrícola, a qualidade dos espaços urbanos e da vida da cidade que se compara às mais simpáticas e turísticas da Velha Europa, com seus casarões de época preservados, as suas praças arborizadas com mangueiras e castanheiros centenários e sobretudo a sua gente afável, as ruas animadas, as casas coloridas. Não existe nem pobreza nem sombra de violência; os nomes são os mais portugueses que se podem encontrar, com uma quantidade impressionante de Pinhos, Magalhães, Carneiros, Almeidas, Abreus... e as figuras humanas, uma mescla muito original de índio e de branco".
Ubajara
António Abreu Freire calcula que o padre jesuíta Antônio Vieira demorou pelas aldeias da Serra da Ibiapaba cerca de dois meses e meio, regressando pelo mesmo caminho a São Luís. "Com certeza, ele percorreu algumas delas. Talvez tenha visto nas grutas de Ubajara as gravuras rupestres de antigas civilizações indígenas que por ali viveram muitos milhares de anos antes dos Tabajaras".
Semana Santa
Na viagem que o missionário Antônio Vieira fez à serra, em março de 1660_ data em que sua comitiva deixou o Maranhão_, somente após fracassar a tentativa de ir por mar, o religioso e sua comitiva resolveram fazê-la mesmo a pé. Foram 21 longos dias percorridos ao longo da costa. O grupo chegou à serra a tempo paras os ofícios da Semana Santa.
FERNANDO MAIA
