Vendo pela imprensa a operação denominada “Mãos Limpas” deflagrada pela Polícia Federal no Amapá, através da qual um grupo de pessoas que desviava verbas públicas foi preso, incluindo o Governador daquele estado, lembrou-me o fragmento do “Sermão do Bom Ladrão”, de Padre Antonio Vieira (1608-1697), produzido em 1655, transcrito: “Não são só ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa: os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. — Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.” (grifo nosso)
Essa gente ímpia, desonesta, safada, medíocre, que surrupia o que é do povo, da população, dos contribuintes, dos cidadãos, pensa que é imortal, que dinheiro é tudo na vida e que os valores humanos, éticos, morais, espirituais, e até os bons costumes não valem nada. Quem não vale nada é quem quer se dar bem na vida furtando os cofres públicos.
Na verdade quem assim age, não passa de um idiota (e diz que o idiota sou eu, é você, o honesto). Ora, está lá na Bíblia, versículo 16, Salmo 37, in verbis: “Vale mais o pouco que tem o justo, do que as riquezas de muitos ímpios”. Vejam-se mais dois versículos, do mesmo Salmo, respectivamente o 35 e 36: “Vi o ímpio com grande poder espalhar-se como a árvore verde na terra natal” e “Mas passou e já não aparece; procurei-o, mas não se pôde encontrar”.
Ou seja, é melhor ter pouco dinheiro, mas ganho com trabalho, do que muito dinheiro furtando, roubando, além do que o poder do safado, do desonesto, perdura um bom tempo, mas se esvai, some, desaparece, como um passe de mágica (água deu, água levou).
É também idotice imaginar que os outros não percebem o crescimento vertigionoso do patrimônio de alguém desproporcional à sua remuneração. O resultado não poderia e nem poderá ser outro: um fim trágico. Porquanto, valendo-me ainda do Salmo 37, agora com o versículo 18: “O SENHOR conhece os dias dos retos, e a sua herança permanecerá para sempre”.
Você, caro leitor, conhece por esse mundão de Deus pessoas que furtaram o povo e se deram bem na vida?
Coreaú-CE, 15 de setembro de 2010.
FERNANDO MACHADO ALBUQUERQUE