O Nordeste tem a maior atividade sísmica do Brasil, segundo a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Apenas na região de Sobral, no Ceará, são registrados entre 60 e 70 tremores por mês, em média. No Pernambuco, esse número chega a 30. A grande maioria de fenômenos tem intensidade menor que 2 graus na escala Richter e, por isso, não são sentidos e nem reportados para o Instituto de Astrofísica, Geofísica e Ciências Atmosféricas, em São Paulo, órgão responsável pelo Boletim Sísmico Brasileiro.
De acordo com o informe, desde 2008, foram contabilizados 167 tremores com mais de 2 graus em todo o País, uma média de aproximadamente 5 por mês. Desde 2001, foram 376. "Existe um número muito maior de tremores do que os que são divulgados e, com o aumento das estações de monitoramento, esse número deve se ampliar", garante o técnico em sismologia da UFRN Eduardo Menezes.
Segundo o especialista do Observatório Sismológio da Universidade de Brasília, Daniel Cacheta, existe a carência de um sistema integrado de monitoramento para identificar os focos de tremores no País. O laboratório de Brasília conta com aproximadamente 30 aparelhos de medição, e o do Rio Grande do Norte, 45. Em alguns pontos mais isolados, como na região Amazônica, existem poucas estações de monitoramento, diz Cocheta.
Na região do Acre, onde já foram registrados tremores de até 6.5 graus na escala Richter, a estação de monitoramento é do serviço geológico americano. "Os tremores nessa região ocorrem a mais de 700 km de profundidade e em regiões desabitadas, por isso focamos os estudos onde existe uma atividade mais perceptível", diz o técnico em sismologia da UFRN. Segundo ele, só são reportados ao Boletim Sísmico Brasileiro, os tremores de mais de 2 graus.
Comunicação por carta
De acordo com Daniel Cacheta, do laboratório de Brasília, nas regiões mais remotas a comunicação com os operadores ainda ocorre por carta, via Correios. "Temos aparelhamento e 30 estações para monitorar os abalos, mas em determinadas regiões, não há link via satélite e o operador de campo envia os dados via correio a cada 15 dias".
Menezes diz que, em algumas estações da UFRN, é necessário que os dados sejam coletados diretamente no local. "Têm estações que transmitem os dados via rádio e internet, mas em alguns casos, onde não há meio de transmitir os dados, as informações têm que ser coletadas fisicamente e enviadas eletronicamente".
Segundo o especialista da UFRN, por meio de um convênio com a Petrobras, está sendo montada uma rede de monitoramento na costa brasileira, com estações de monitoramento no Nordeste, Sul e Sudeste do País. "Serão 15 estações colocadas em pequenas casas, com sensores ligados e sismógrafos e com sistema de envio de dados via satélite ou por meio de telefonia celular", diz Menezes.
"Para facilitar todo o processo, é necessário que haja um sistema vinculado à Defesa Civil para que possa haver a troca de informações, com centros integrados de sismologia", afirma Cacheta.
O observatório, segundo o especialista, trabalha com probabilidades e identificou que os sismos ocorrem em ciclos de 10 em 10 anos. Em 2008, no litoral de Santos, em São Paulo, foi registrado um tremor de terra, que em uma zona urbana "poderia ter consequências catastróficas pela falta de preparo das construções brasileiras", diz o pesquisador.
A região Centro-Oeste brasileira também tem histórico de tremores. Segundo o Observatório de Brasília, o mais forte ocorreu em fevereiro de 1964, com intensidade de 5,4. O mais recente foi no dia 8 de outubro deste ano entre os municípios de Mara Rosa e Estrela do Norte, no Estado de Goiás, e teve magnitude estimada em 5.0. Técnicos do laboratório de Brasília ainda realizam estudos em campo para oficializar o índice.