Qual a profissão que rouba a honra do homem se todo e qualquer trabalho honesto o dignifica? Pergunta que se insiste em fazer ao promotor Maurício Antônio Ribeiro Lopes, da Justiça de São Paulo, que teima em perseguir o palhaço Tiririca (Francisco Everardo Oliveira Silva), eleito deputado federal por São Paulo, obtendo a consagradora votação de um milhão e mais de trezentos mil votos, a maior registrada no Brasil, no último pleito. Alega o representante do Ministério Público que Tiririca não preencheu de próprio punho a declaração de escolaridade exigida por lei, além de disputa desigual por se valer de sua profissão de palhaço. Certamente, a quem compete a pesada responsabilidade de defender os elevados interesses da sociedade e, por extensão, do próprio cidadão, jamais poderia assumir tal postura, justamente ele, investindo contra direito adquirido por um candidato em eleições livres, sob os postulad os da democracia que hoje vive a Nação brasileira. Transformou-se, assim, mais do que de repente, num autêntico algoz de um cidadão-eleitor e candidato vitorioso, ainda mais insistindo numa condenação irracional. Que interesse o deixa em situação tão incômoda que chega a assustar a consciência cívica nacional? De uma coisa se tem certeza: a defesa da sociedade, fundamento essencial de uma promotoria, não justifica, pela ausência de fato gerador claro e insofismável, a atitude que a todos espanta e até chega a agredir, em face da gravidade como se reveste. Objetivando ilustrar a nossa admiração e o nosso conceito, à luz de tantos argumentos que analistas e jornalistas políticos estão levantando na abordagem deste problema, apenas lembramos candidatos das diversas áreas profissionais que lograram êxito na eleição de outubro último e outros que postularam novos cargos, todos eles recorrendo ao nome que construiram às expensas de suas profissões respe ctivas: Romário, jogador de futebol famoso, eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro; Clodovil, estilista e personagem da alta moda, morreu em pleno exercício do seu mandato de parlamentar e Russomano, popularíssimo apresentador de televisão, deputado federal e candidato a governador de São Paulo nas últimas eleições, para citarmos somente esses. Todos eles, sem exceção, conquistaram os seus mandatos em função as profissões que exerceram. A alegativa do promotor de Justiça paulista, de que Tiririca serviu-se da sua profissão de palhaço durante sua campanha, perde, portanto, toda substância. Daí que passou, então, a utilizar a argumentação de que o cearense, filho de Itapipoca, é analfabeto, exigindo a sua humilhação diante do juiz Aloísio Sérgio Rezende Silveira, da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo. Contudo, em que pese esse vexame sofrido por Tiririca, o TRE de São Paulo já firmou convicção de que, qualquer que seja a sentença do julgamento , Tiririca deverá ser diplomado deputado federal em 17 de dezembro próximo. Mas, nesta história toda de palhaço é bom lembrar o que disse Tiririca quando perguntaram-lhe, em São Paulo, por que ele não tinha se candidatado pelo Ceará? Tiririca foi fulminante na resposta: "Lá não tem abestado não, cara..."
Chico Alves, jornalista
Fonte: Diário do Nordeste, 21/11/2010
sugestão: Davi