SOBRE OS PRECONCEITOS
Costuma-se falar, em relação ao Brasil, que esta é a terra da da miscigenação que forjou uma mistura étnica única no mundo, resultado da fusão entre três raças. Apregoa-se o sentimento de união de nosso povo ante problemas que eventualmente afligem determinadas regiões e que mobilizam milhões de cidadãos em defesa de populações inteiras atingidas por catástrofes naturais. Porém, em menos de um ano, muitos têm sido os exemplos de preconceito que destoam dessa imagem idealizada por muitos, mas que não espelha a realidade.
Não olvidemos, por exemplo, a vergonhosa atitude de Boris Casoy, que, no Natal passado, ao encerrar o noticioso que apresenta na Rede Bandeirantes, externou toda a sua intolerância ao sentir-se agredido pelos votos de Boas Festas transmitidos por humildes garis, tão ou mais cidadãos do que ele, brasileiros como eu ou você. Ou agora mesmo, quando o jornalista Luiz Carlos Prates, em programa d a emissora local da RBS em Florianópolis, chamou de "espúrio" o governo Lula por facilitar a compra do carro próprio aos motoristas - por ele chamados de "miseráveis" - de menor poder aquisitivo, culpando-os ainda pelo aumento dos acidentes nas rodovias de Santa Catarina. Prates destilou todo o veneno típico da elite que, inconformada, assiste ao crescente processo de melhoria de vida de outras classes sociais.
Mais sérios ainda são os preconceitos contra brasileiros de outras regiões ou até contra indefesos moradores de rua, em grandes cidades. No primeiro caso, lembremo-nos da estudante Mayara Petruso e de sua mensagem no Twitter, ao afirmar que "nordestino não é gente" e convidar seus conterrâneos a "matar um nordestino afogado", após a vitória de Dilma no último pleito - que seria inevitável mesmo sem os votos dos nordestinos. Quanto aos moradores de rua, continuam a ser massacrados, como o que serviu de alvo para satisfazer os instintos besti ais de um marginal travestido de empresário, em Fortaleza. São apenas alguns fatos a atestar que falta muito para que vençamos nossos preconceitos e tornemos este País um modelo de união e de integração de seus cidadãos.
GILSON BARBOSA
Jornalista
Fonte: Diário do Nordeste, 28/11/10
sugestão: Davi