Certa vez, um velho pensador caminhava por uma estrada que cortava um imenso vale. Com passos lentos, seguia contemplando o cenário que se descortinava à sua frente. Absorto, em meio a pensamentos filosóficos, fitava, à distância, uma robusta e azulada cordilheira, que realçava naquele belo panorama. De repente, avistou três pessoas: um menino, um jovem e um velho os quais, juntos, andavam, numa marcha um pouco apressada, em sua direção. O aspecto era de fuga. Passados alguns minutos, ocorreu o esperado encontro, sendo estabelecido, entre eles, um construtivo diálogo.
- De onde vêm vocês?
- Da cidade que foi vila e fica um pouco adiante. – Respondeu o velho.
- Aonde vão vocês?
- À procura de um lugar mais ameno para morar. – Falou o jovem.
- A cidade de vocês não é um lugar agradável?
- Senhor, - respondeu o velho -, eu sou o passado. Na minha mocidade, essa terra era altiva, graciosa e evoluída.
O jovem tomou a palavra e disse:
- Eu sou o presente. Lá, agora, nada acontece, o povo não tem vez, tudo é involução; a criançada não recebe os cuidados necessários ao seu sadio desenvolvimento, a juventude, sem perspectiva, vive entediada, e os provectos, sem a devida assistência, amargam os seus dias.
O menino então bradou:
- Eu sou o futuro... Há tempos, tento fazer valer a força da modernidade naquele território, mas a casta dominante incrustada no poder não abre espaço para a luminosidade do progresso se instalar, porque a visão é curta, só enxerga o particular. A coletividade não é considerada. Faltam: planejamento, interesse público, dinamismo, espírito empreendedor, cidadania e até democracia.
Surpreso, o pensador alteou a voz e proclamou:
- Que gente atrasada! Já sei de onde vocês vêm. Estão fugindo da terra da broeira.
- Não, meu senhor - disse o menino -, a nossa terra tem o nome do rio que lhe margeia. Às vezes, na invernada, suas águas invadem ruas e praças com impetuosa fúria e de outras, correm com uma suavidade que nos enche de alegria. Mas ele está agonizante e nossa gente cansada de ouvir promessas vãs. Por isso a cidade vive muito acanhada e triste por não ser bem cuidada como merece.
O velho pensador, diante do que ouvira, em tom reflexivo, vaticinou:
- O tempo passa como o vento. O povo é soberano para decidir, porque tem como instrumento o peso do voto. Aprendam a votar...
Após um breve silêncio, acrescentou:
- Na vida tudo tem o seu apogeu e o seu declínio. Portanto, senhores, não abandonem o berço natal. Voltem, lutem com as armas da cidadania até que o vento mude de direção. Perseverem... “Tentando, os gregos chegaram a Tróia”.
Fortaleza, 15 de agosto de 2010
Leonardo Pildas