Na lembrança um livro antigo: "Os Miseráveis". Produção de Victor Hugo. Nosso texto surge da triste inspiração atual em que um digno procurador da República assume ares do inspetor-perseguidor do personagem Jean Valjean. Triste história de um homem que roubou pão para saciar sua fome. Evento que o crucificou para o resto da vida. Vítima da intolerância. Perseguido pela sociedade ultrajada. Alcançado pelo crime de prevaricação dos que se apossam do que não lhe pertence. Jean Valjean jamais teve sossego na vida, após o furto famélico. O perseguidor, em nome da lei, não lhe dava trégua. Agora, o Tiririca revive o drama. Ele ousou aceitar ser candidato a deputado federal. Usou sua verve e alegria para conquistar os eleitores ávidos por encontrar o verdadeiro homem de bem. Ali estava o cidadão Francisco Everardo Oliveira Silva usando o seu talento de humorista, com a expressiva ajuda do seu personagem: o Tiririca. Eleição alegre. Talvez um protesto paulista que é primeiro lugar em reação contra os desmandos políticos que nos infelicitam. O certo é que o Tiririca obteve 1.300 mil votos. Recorde de aceitação popular. Revelação inequívoca da vontade de mudar usando o bom humor. Usar o senso comum de um homem do povo capaz de dar um recado de paz através da espontaneidade. Tiririca na Corte Federal. A ilusão tornando-se curiosa realidade. Ponto de partida para uma reação revolucionária capaz de sensibilizar pelo lado da harmonia. Riso como matéria prima da sustentação de valores que não se compram. Alegria, no lado sério das decisões. O representante do Ministério Público bem podia defender a sociedade doente pelo lado da concórdia altiva de reconhecer valores vindos da arte de ser simples, sem rebuscados. Tiririca pode ser uma revelação da inteligência dos que permanecem puros de coração. O brasileiro, graças a Deus, sabe sorrir e fazer rir, sem desmerecer padrões de ética compo rtamental. O TRE de São Paulo, pelos seus julgadores, já laborando na interpretação legal do refrão de que todos são iguais perante as leis. O humorista pode ser um representante do povo, do povo que nele votou com sinceridade.
Paulo Eduardo Mendes – jornalista
Fonte: Diário do Nordeste, 04/12/10
sugestão: Prof Daví