ISTOÉ: O professor ficou bilionário Ele começou dando aulas de inglês e hoje é dono do grupo Multi, uma rede de escolas que fatura R$ 2,3 bilhões.
E foi assim que Martins criou a Wizard, inspirado pelo clássico infantil “O Mágico de Oz” (The Wonderful Wizard of Oz, no título em inglês), que ele afirma ser para ele uma história de exemplo de superação.
Hoje, aos 54 anos, se tornou dono da maior rede de ensino de idiomas do País e uma das maiores do mundo: o Grupo Multi, formado por nove marcas de ensino. Até o início de novembro, contava com três mil unidades espalhadas por 11 países.
Na semana passada, esse cenário mudou. Martins anunciou a aquisição da escola de idiomas Yázigi por um valor estimado em R$ 100 milhões. De uma hora para outra, conquistou mais 420 unidades e uma das marcas mais famosas do País.
O negócio coroa uma série de investidas de Martins que tornou o Grupo Multi uma máquina de compras. O Yázigi é a quinta aquisição somente neste ano, em uma demonstração de que seu apetite não tem limites.
Com isso, desde o início de 2010, ele praticamente duplicou o faturamento de R$ 1,2 bilhão para R$ 2,3 bilhões. “O próximo passo é a abertura de capital. Faremos isso até 2012”, disse à DINHEIRO Carlos Martins, que, há mais de uma década, adotou o nome de sua principal marca, Wizard, como mais um sobrenome.
A decisão de ir às compras foi influenciada pelos gêmeos Charles e Lincoln, dois dos seis filhos de Wizard Martins. Ambos trabalham com ele e convenceram-no de que a aquisição de concorrentes traria musculatura para o grupo.
“Tenho a sorte de ter dois filhos que se formaram nos EUA e foram treinados na cultura americana de aquisições. Dei carta branca a eles”, diz Martins. Quem escuta o fundador do grupo falar desse modo até acredita que foi um processo tranquilo. Ledo engano. “Precisou de um bom tempo de convencimento.
No princípio, ele não aceitava a ideia e perguntava. ‘Vou dar dinheiro para o nosso inimigo?’”, conta, sorrindo, Charles Martins, presidente do conselho do Grupo Multi. “Ele preferia distribuir dividendos, mas mostramos que era hora de investir na companhia”, explica o executivo.
A onda de aquisições não deve parar tão cedo. O grupo, diz Charles, precisa diversificar ainda mais e já tem um novo foco: o segmento de sistema de ensino. A aquisição pode acontecer já no primeiro trimestre do próximo ano.
“Estamos dormindo com um cheque em branco no bolso pronto para fechar o negócio. Já estamos analisando algumas oportunidades”, afirma Wizard Martins. Mas de onde vem tanto dinheiro? Uma semana antes de fechar o negócio o Multi ganhou um sócio de peso que, logo de cara, fez um aporte de R$ 200 milhões.
Seu novo parceiro é ninguém menos do que a Kinea, empresa de investimentos do Grupo Itaú, que se tornou sócia minoritária, com participação inferior a 20%. “Há muito tempo somos assediados por fundos de investimentos, mas não queríamos abrir mão do controle da companhia.
A Kinea nos permitiu, finalmente, trazer a Yázigi para o grupo”, conta Charles Martins. Há mais de um ano o Grupo Multi tentava negociar a compra da Yázigi sem sucesso. Havia uma pressão dos franqueados da rede por mais garantias.
Afinal, o grupo estava realizando muitas compras seguidas e eles temiam uma possível quebra da companhia e, consequentemente, o fechamento de suas unidades. A entrada do grupo Itaú por meio da Kinea era o respaldo que faltava para o negócio ser concluído.
“Participamos diretamente das negociações. A Yázigi se sentiu mais segura ao ter um novo investidor como parte do Grupo Multi”, diz Cristiano Laurete, gestor da Kinea. Um dos motivos que despertou o interesse da Kinea para investir no Multi foi a abrangência de marcas.
“Vimos o crescimento acelerado da empresa e muitas oportunidades futuras para ela avançar. Por isso, decidimos que seria um bom investimento dar capital a eles para esse processo continuar”, diz Laurete.
O modelo de negócios adotado pelo Grupo Multi é o de segmentação (leia quadro). Com suas nove bandeiras, a companhia consegue atender desde os consumidores da classe C até os da classe A.
E a ideia é fazer da rede Yázigi uma das estrelas no setor premium, no qual já atua com a sua marca Wizard e, em escala menor, com a Quatrum. Além de segmentar, o grupo também busca sinergias. Ou seja, agregar novos negócios de modo a aumentar as receitas.
Foi assim com a People, que nasceu como uma escola de informática e, ao ser adquirida pelo Multi, passou a ter cursos profissionalizantes e de idiomas. Se por um lado essa estratégia tem feito o grupo crescer, por outro ela é muito criticada, considerada um modelo de ensino estilo fast-food. O Multi não parece preocupado com as críticas.
Com pelo menos R$ 100 milhões em caixa, o grupo agora foca suas atenções em colégios de ensino fundamental e médio, de alto padrão e com grande número de alunos. Entre os cotados estariam o Augusto Laranja e o Bandeirantes, de São Paulo (SP), o Expoente, de Curitiba (PR) e o Farias Brito, de Fortaleza (CE).
“O baiano Ideal também está nos planos da empresa”, comenta um consultor. A estratégia, dizem especialistas, não seria comprar um sistema educacional que já possua várias unidades como fez o grupo editorial britânico Pearson, que fechou a compra do sistema de ensino e de parte dos ativos do Sistema Educacional Brasileiro (SEB), em julho deste ano, por R$ 888 milhões.
A ideia do Multi é comprar mais do que um colégio e criar o seu próprio grupo e método educacional. “A área de educação passou a chamar a atenção dos investidores. Existem ótimas oportunidades no mercado”, afirma Wizard Martins.