"Se fosse a garota do Tchan, ninguém falava nada", disse o poeta ao G1.
Araripe Coutinho, 42, tirou fotos dentro do Palácio Museu Olímpio Campos.
Araripe Coutinho, 42, tirou fotos dentro do Palácio Museu Olímpio Campos.
O poeta e escritor Araripe Coutinho, 42, fotografado nu dentro do Palácio Museu Olímpio Campos, em Aracaju, afirmou, nesta terça-feira (24), ser vítima de preconceito depois que suas fotos foram parar na internet e provocaram polêmica em Sergipe. A Secretaria da Casa Civil de Sergipe abriu sindicância para apurar como as fotos foram tiradas dentro do prédio público.
“Não consigo sair de casa. Estão achando que é um acontecimento fantástico. Se fosse um cara musculoso ou a garota do Tchan, ninguém falava nada. Mas como eu sou ‘boteriano’...”, afirma referindo-se ao pintor colombiano, famoso pela crítica social feita em figuras rotundas, redondas. “Não tinha porque tirar uma foto de terno e gravata. Eu queria que as pessoas dissessem: ‘o poeta está nu’, porque toda minha poesia é assim, despojada de qualquer conceito”, disse ele em entrevista ao G1.
O poeta diz que tirou as fotos em 2005, quando o museu estava fechado, e que a divulgação não foi intencional. “Você manda para um amigo, que manda para outro, aí coloca no Facebook. Não havia intenção, isso já existia há tanto tempo”, afirma Coutinho.
“O museu estava completamente detonado. Como eu ia fazer meus 20 anos de literatura, resolvi fazer uma visita a Botero, Caravaggio, Modigliani, no mobiliário belíssimo no museu. Não há nada de imoral nas fotos, nada de aviltante, são hipercomportadas”, afirma. “Porque eu não mostro nada, não mostro nem a bunda. Apenas tirei a foto com a flor na frente, bem boteriana, bem bonita.”
Para Coutinho, a reação exagerada a sua “obra” é fruto do preconceito. “Porque é gay, porque é no museu, porque é gordo... Como teve essa empáfia de virar uma Mona Lisa deitada?”, questiona. “Então vai ter que passar tinta na capela Sistina inteira, porque tem anjos com o sexo à mostra.”
O Palácio Museu Olímpio Campos foi sede do governo do estado nos séculos 19 e 20. Em 1985, foi tombado como um dos mais significativos monumentos da arquitetura oficial. “Eu amo o museu. Aproveitei que, pensando que não ia vir abaixo, como todo nosso patrimônio brasileiro, que desmorona, para tirar logo as minhas fotos.”
Coutinho defende o ensaio como “completamente artístico, bonito, de muito bom gosto, e que criou na cidade uma comoção pública desnecessária”. Além disso, revela que está exausto com a repercussão que o ato provocou. “As pessoas detonaram essas fotos na net, virou trending topic. Porque durante 20 anos de literatura, morei com Hilda Hilst, escrevi para o Clodovil, ninguém nunca falou nada da minha poesia?”, critica.
“Mas serviu para a sociedade discutir conceito de arte. Agora depois de uma mulher na Presidência do Brasil, as pessoas ainda vêm discutir nu artístico? É para se discutir liberdade de expressão”, diz ele. E manda um recado àqueles que têm curiosidade de ver suas fotografias: “As pessoas devem abrir a cabeça e introduzir um pouco mais de modernidade, mas não o conceito da palavra gasta, e sim, algo que vai modificar o conceito de sociedade. Parece que nós sempre estamos levando alguém para a fogueira”, completa.
G1
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