domingo, 17 de julho de 2011

Dona Cotinha, a centenária!

A característica essencial do ser humano é ter vida, a idade é apenas um detalhe. O viver humano é um grande poema com quatro estrofes bem definidas: infância, juventude, maturidade e velhice. Cada uma dessas estrofes contém vários versos construídos em rimas ricas e métrica programada, conforme a lógica e as circunstâncias vivenciadas pelo(a) versificador(a). 
Machado de Assis, in Histórias Românticas, afirma: “Cada idade tem seu ar próprio.” Tem razão, o grande mestre das letras brasileiras. A infância é marcada pela inocência, candura e pureza; a juventude é o tempo das quimeras e das aventuras; a maturidade é ornada pela razão e a moderação; a velhice é a ribalta da reflexão, da sabedoria, da saudade e das lembranças.
A localidade rural de Barra é o nascedouro dos Albuquerque de Coreaú. Nesta estância, na solidez do lar do distinto casal Custódio Carneiro da Silva e Mariana Carneiro de Albuquerque, no dia 17 de julho de 1911, uma segunda-feira, nascia Maria Carneiro Albuquerque que mais tarde receberia o carinhoso epiteto de “Cotinha”.
Casou-se, na Matriz de Nossa Senhora da Piedade, no dia 18 de setembro de 1934, terça-feira, com João Batista Portela. Dessa união conjugal nasceram: José, Maria do Socorro, Francisco Anastácio, Maria da Conceição, Maria da Piedade (Irmã Portela), Antônia (Irmã Antonieta), Ana (Anete), Custódio, Manoel, os gêmeos Raimundo Nonato e Maria das Graças, e Antônio. Os três últimos faleceram ainda crianças.
Essa senhora de semblante sereno e postura reflexiva experimentou, até aqui, a aurora e o crepúsculo de 36.525 dias. Este robusto quantitativo reflete a soma de cem anos bem vividos, assim discriminados: 75 anos normais (365 dias) e 25 anos bissextos (366 dias). Que belo tempo! Que expressiva idade! Que conquista salutar!
São Francisco de Assis, numa certa manhã, ao contemplar a imagem do Crucificado, exclamou: “Glorioso e grande Deus, meu Senhor Jesus Cristo! Dai-me três presentes: a fé, firme como uma espada; a esperança, larga como o mundo; o amor, profundo como o mar.” (in O Irmão de Assis, 2007 – p.59).
Com certeza, Dona Cotinha é possuidora, nas mesmas dimensões, desses três atributos. Assim, essa longevidade pode ser explicada. Todavia, é justo realçar, também, o caráter genético que tem proporcionado vida longa a muitos dos seus familiares.
O recato da velhice ensina escutar, com relativo entusiasmo, o murmúrio de uma leve brisa. Os provectos aprendem com o tempo a arte de observar e contemplar a singeleza das coisas. Por isso são sensíveis às mínimas manifestações da natureza. Esta capacidade desenvolve-se no cotidiano da alongada caminhada, revelando a sabedoria forjada pela experiência. Neste contexto, Dona Cotinha, do alto dos seus cem anos, diga o que o poeta e ensaísta americano, Ralph Waldo Emerson, disse: “Os anos ensinam muito do que os dias nunca saberão.”  
Na beleza desta memorável data, cantemos uma sonora canção para saudar a marca centenária dessa veneranda palmense. Parabéns, parabéns! Muitas felicidades, Dona Cotinha!
A Palma de ontem e a Coreaú de hoje proclamam, garbosamente, loas a secular genetriz do clã “Carneiro Albuquerque Queiroz Portela”.
Louvado seja o Senhor da vida! Hosanas ao nosso Deus, por sua infinita bondade! Ele, que é onipotente, fez de Dona Cotinha uma sábia longeva. 

Fortaleza, domingo, 17 de julho de 2011.
Leonardo Pildas