sábado, 10 de setembro de 2011

Brogodó é aqui mesmo?




Na fícticia Brogodó, cidade do sertão nordestino (mas poderia ser qualquer cidade medieval da Europa), o coronelzinho Timóteo se autoproclamou rei e tocou o terror na população. Com seus jagunços como corpo de segurança e inspirado em diversos tiranos, o autoproclamado rei Timóteo, impôs uma ditadura sobre Brogodó, transformou o prefeito em mordomo do seu palácio, a primeira dama em sua cozinheira real, entre outros desmandos e absurdos.
A história se passa em Cordel Encantado, atual novela das seis de uma grande emissora de TV, mas olhando com cuidado bem poderíamos identificar os personagens entre nós. E o que encontraríamos de comum entre Brodogó e a política em nosso Estado/País?
Vejamos, por exemplo, a aprovação pela Assembleia Legislativa do Ceará, da lei que garante um perímetro de 40 quarteirões de distância para qualquer manifestação em função da segurança do governador. A segurança do governador deve sim ser uma responsabilidade do Estado, o que me pergunto é como durante a campanha eleitoral estes senhores ficam tão colados ao povo que até parece dele fazer parte. Põem crianças ao colo, comem buchada de bode, caminham pelas feiras e mercados, sobem em lombo dos jumentos e alguns até são carregados nos ombros. Até aqui o pressuposto é que ninguém correria perigo ou teria a segurança ameaçada.
O que podemos ler então dessa decisão? Que a motivação maior é impedir que os movimentos sociais, em sua legítima luta possam aproximar-se do fosso do Palácio/castelo. Infelizmente, uma vez governo, o governante desconhece que deveria estar à serviço da sociedade e que a esta deveria render contas e manter o diálogo. Assim, a distância física só traduz a distância política daquele que recebendo um mandato não mais reconhece nele o povo que o elegeu.
Ao entrar em contato com qualquer naco de poder, muitos homens (e mulheres) públicos se transformam em pequenos (ou grandes ) Timóteos, desprezam qualquer referência com o povo, criam suas próprias leis, privatizam as instituições, quando não transformam o serviço público em balcão de negócios.
Eu quero sair de Brogodó e ir pra Seráfia. Lá posso ser amiga do rei Augustus. Ele é democrático, sensível, casou com uma mulher negra e a transformou em rainha… Um verdadeiro conto de fadas! Já aqui, somente os movimentos serão capazes de impedir que tenhamos entre nós esse tipo moderno de coronelzinho…

Margarida Marques – Membro da Coordenação colegiada do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente e do Conselho de Leitores do O POVO

Fonte: Blog Coreaú pra frente