quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Ceará já tem informação sobre aliciamento de jovens gays

As autoridades do Ceará têm informações de que centenas de jovens gays do estado, alguns menores, estão sendo atraídos por organizações criminosas que atuam em São Paulo no tráfico de pessoas, para serem exploradas sexualmente nas ruas da capital paulista e em casas de prostituição. A maioria vê a atividade como uma forma de ganhar dinheiro e de financiar cirurgias para a colocação de próteses nos seios, segundo informou nesta terça-feira ao GLOBO, em Fortaleza, Andrea Costa, superintendente do Núcleo de Enfrentamento do Tráfico de Pessoas da Secretaria da Justiça do Ceará.

"As mães dos jovens nos procuram e tentam impedir que eles viagem para São Paulo. Mas é difícil impedir. Teve um caso no ano passado em que uma quadrilha pagou hotel para o rapaz. Depois financiou a passagem, e o jovem foi para São Paulo, pensando em colocar silicone. Nesse caso, o rapaz se transformou e foi morar na Itália", disse Andrea Costa.

Ela diz que o poder econômico acaba prevalecendo, pois os jovens normalmente são pobres.

"As quadrilhas financiam as cirurgias e enganam os rapazes, pois acabam sempre devedores do dinheiro que lhes é emprestado. Tentamos conscientizar os jovens a não se deixarem explorar, com campanhas de conscientização na orla de Fortaleza", acrescentou Andrea.

Em São Paulo, o delegado do Departamento de Homicídios e Delegacia à Pessoa (DHPP), Joaquim Dias, disse que a investigação deve ser feita pelas polícias do Nordeste, de onde os jovens saem para se transformar em travestis. Dias afirmou que não há trabalho conjunto de apuração e que São Paulo é “apenas o ponto final” do tráfico de pessoas.

Dias conta que a polícia paulista apenas conseguiu desbaratar, em 2011, uma quadrilha que explorava travestis na capital, após denúncia do desaparecimento de um jovem de 15 anos, aliciado por uma quadrilha do bairro do Cambuci. Outros sete adolescentes também foram detidos.

"O problema é o voto de silêncio que existe entre os próprios travestis", afirmou.

Dezenas de travestis eram mantidos reféns do grupo, que cobrava a permanência na casa. Um dos aliciadores, Douglas Wagner Cardoso, foi preso acusado de matar um travesti.
Da Agência O Globo