A internet mundial é mais frágil do que você imagina. Saiba como ela pode ser facilmente interrompida.
Na última quarta-feira (25 de abril), quatro estados brasileiros sofreram com um apagão em
boa parte do sistema de telecomunicações. Paraná, Santa Catarina, Rio
Grande do Sul e São Paulo tiveram o sinal das operadoras GVT, TIM e Vivo
cortados ou desestabilizados. E o motivo para termos tantas pessoas sem
acesso à internet ao mesmo tempo? O rompimento de um cabo de fibra óptica.
Sim, o rompimento de cabos pode fazer com que porções inteiras de um
país fiquem totalmente “no escuro”. O caso ocorrido nesta semana mostra a
fragilidade do sistema de internet brasileiro e ainda nos traz uma
pergunta: “É possível acabar com a internet brasileira de uma só vez?”.
Problemas lógicos X Falhas físicas
Existem duas formas de fazer com que toda a internet de um país seja
interrompida. A primeira delas é derrubando as conexões de servidores
DNS, fazendo com que os sites não consigam ser encontrados pelos
internautas. Esse seria um “apagão lógico” da rede mundial de
computadores.
Mapas dos backbones brasileiros, em 2010. (Fonte da imagem: Reprodução/A Rede)
Outra possibilidade: caso toda a estrutura das empresas operadoras do
sinal de telefonia e internet seja desativada, redes domésticas,
empresariais e governamentais não conseguirão identificar servidores DNS
ou obter endereços IP. Logo, não será possível se comunicar com as
centrais e receber pacotes de dados.
E há problemas mais difíceis de serem resolvidos? Sim! Da mesma forma
como aconteceu na última quarta-feira, o rompimento de cabos de fibra
óptica podem deixar estados inteiros sem conexão. Mas não pense que se
trata apenas de um cabo comum – são gigantescas estruturas chamadas
“backbones”.
A importância dos backbones
Em português, “backbone” significa “espinha dorsal”. E essa denominação
não aconteceu por acaso. Backbones são ligações amplas entre sistemas de
redes muito mais complexos do que os domésticos. Fisicamente, são
compostos por uma quantidade imensa de cabos de fibra óptica.
Um longo caminho é percorrido até aqui. (Fonte da imagem: iStock)
Somente dessa forma eles conseguem comutar os enormes fluxos de
informação recebidos (voz, dados, vídeo etc.), demandando ainda
equipamentos de alta capacidade para evitar perdas de sinal e dados.
Vale dizer também que existe uma colaboração entre várias empresas
dedicadas à transmissão de sinal por fibra óptica. É a troca de tráfego
(ou peering), coordenado pelo PTTMetro do Comitê Gestor de Internet.
Por que somos ligados por cabos?
De uma maneira bastante direta: porque são eles que garantem as altas
velocidades de conexão. Há outras formas de levar a internet até sua
casa, mas sistemas de transmissão por rádio e satélite não são muito
estáveis – e até mesmo eles precisam dos cabos para enviar os dados até
as centrais mais avançadas.
(Fonte da imagem: ShutterStock)
Infelizmente, as principais rotas de dados são compostas por limitadas –
e mal distribuídas – estruturas no país. A GVT, por exemplo, possui
três redes que enviam os dados de São Paulo para o sul do Brasil. A
principal delas foi completamente rompida (impossibilitando qualquer
comunicação) e as secundárias não suportaram a demanda, ficando
completamente instáveis.
Para que a internet não fosse prejudicada, seria necessário que os cabos
e roteadores utilizados nas rotas alternativas fossem tão capazes de
transferir grandes fluxos de dados em longas distâncias quanto os da
rota principal. O problema é que isso custa caro – muito caro mesmo –,
afinal de contas, são centenas e mais centenas de quilômetros.
Entendendo as rotas
O administrador de redes, Diego Paludo, nos deu uma dica bem
interessante. Para entender melhor como é o caminho percorrido pelos
dados de um servidor até o seu computador, você pode traçar a rota deles
com o Prompt de Comando do Windows. Para isso, basta abrir o aplicativo
e digitar o comando tracert (espaço) site. Por exemplo: tracert
Tecmundo.com.br. No Linux, abra o terminal e substitua “tracert” por
“traceroute”.
Redes móveis também dependem de cabos
Pegue o seu celular com internet 3G nas mãos e tente navegar. Você não
verá nenhum cabo envolvido no processo, mas a verdade é que, para os
dados chegarem até o seu aparelho, eles passam pelas antenas das
operadoras, que precisam dos cabos para suportar o alto fluxo de
informações.
(Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons - BigRiz)
E é por essa razão que os clientes de duas das maiores operadoras de
telefonia móvel do Brasil ficaram sem conexão de dados (e até mesmo de
voz) durante o apagão. Toda a estrutura de redes de longa distância das
operadoras TIM e Vivo na região sul é fornecida pela GVT. Logo, os
celulares também foram atingidos.
Consequências
Se todos os fluxos de dados forem interrompidos no Brasil, você sabe o
que deixará de funcionar? Praticamente tudo. Nada que demanda
conectividade externa poderia continuar em operação. Centros de pesquisa
teriam que abandonar suas atividades, assim como diversos outros
órgãos.
Isso inclui instituições bancárias (que precisam da internet para se
comunicar com as centrais), operadoras de cartão de débito e crédito (só
seriam possíveis transações em espécie) e até mesmo mercados
(principalmente os que possuem sistemas mais complexos de controle de
estoque).
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Como você pode ver, é mais fácil acabar com a internet brasileira do que
pensamos. Contar com poucas rotas de distribuição torna o processo de
envio de informações bastante limitado. Você já sabia que a estrutura da
internet brasileira era tão frágil?
Fontes: Centro de Estudos e Pesquisas em Tecnologias de Redes e Operações, A Rede, Comitê Gestor de Internet e Inteligência em Comunicações.