RIO COREAÚ
Naveguei
nas tuas águas,
Fortes
correntes invernais,
Vindas
do cimo da montanha,
Na
cadência do remanso fugaz.
Caudaloso
seguia o sinuoso leito.
Na
simbiose cativa dos carnaubais.
Vicejando
o vale rumo ao oceano.
Ora
um mero regato poluído jaz.
O
ronco da cheia era o prenúncio.
Da
vindoura trágica desilusão.
Canoa
de além-mundo à deriva.
Ocupada
por ignota tripulação.
Os
curiós sedentos de tuas águas,
Há
tempos cessaram o seu cantar.
O
índio ainda atiça o cão matreiro,
Para
o suíno em disparada alcançar.
Rio,
tuas águas levaram muito sonho.
Rio
que medrou a minha tenra ilusão.
Por
que te fizeram esse mal medonho?
Ó rio que corta a Palma do meu coração!
Noutra
época fluente de março a agosto,
Ora
quase depósito de resíduo e dejeto.
A
vida foi banida ou morta de desgosto.
E o rio sucumbiu sob o descaso abjeto.
A
ponte apagou a barragem da história.
No
"Rabo da Gata" só restou desilusão.
O
"Poço do Carro" só ficou na memória.
Até
as lavadeiras olvidaram o "Socavão".
Das
barreiras os meninos não pulam mais,
A
alta mutambeira envelhecida ressequiu.
Assoreamento
e moita morta dão os sinais.
Do
lento arquejar do ecossistema que faliu.
O
pau-do-rio não se avista em canto algum.
A
cobra grande sozinha para o mundo partiu.
Os
curumins ignoram o estouro do canapum.
Nem
o imponente bambuzal da curva resistiu.
A
mãe d'água desfaleceu e foi enterrada,
Naquele
velho cemitério abandonado.
Seu
espírito tornou-se alma penada.
Que
ainda vela o seu filho desprezado.
Francisco
Eliton Meneses