sexta-feira, 18 de maio de 2012

RIO COREAÚ


RIO COREAÚ
Naveguei nas tuas águas,
Fortes correntes invernais,
Vindas do cimo da montanha,
Na cadência do remanso fugaz.
Caudaloso seguia o sinuoso leito.
Na simbiose cativa dos carnaubais.
Vicejando o vale rumo ao oceano.
Ora um mero regato poluído jaz.
O ronco da cheia era o prenúncio.
Da vindoura trágica desilusão.
Canoa de além-mundo à deriva.
Ocupada por ignota tripulação.
Os curiós sedentos de tuas águas,
Há tempos cessaram o seu cantar.
O índio ainda atiça o cão matreiro,
Para o suíno em disparada alcançar.
Rio, tuas águas levaram muito sonho.
Rio que medrou a minha tenra ilusão.
Por que te fizeram esse mal medonho?
 Ó rio que corta a Palma do meu coração!
Noutra época fluente de março a agosto,
Ora quase depósito de resíduo e dejeto.
A vida foi banida ou morta de desgosto.
  E o rio sucumbiu sob o descaso abjeto.
A ponte apagou a barragem da história.
No "Rabo da Gata" só restou desilusão.
O "Poço do Carro" só ficou na memória.
Até as lavadeiras olvidaram o "Socavão".
Das barreiras os meninos não pulam mais,
A alta mutambeira envelhecida ressequiu.
Assoreamento e moita morta dão os sinais.
Do lento arquejar do ecossistema que faliu.
O pau-do-rio não se avista em canto algum.
A cobra grande sozinha para o mundo partiu.
Os curumins ignoram o estouro do canapum.
Nem o imponente bambuzal da curva resistiu.
A mãe d'água desfaleceu e foi enterrada,
Naquele velho cemitério abandonado.
Seu espírito tornou-se alma penada.
Que ainda vela o seu filho desprezado.
Francisco Eliton Meneses