"(...) la lucha es cruel y es mucha
pero lucha y se desangra
por la fe que lo empecina."
(Uno, Discépolo)
Como diz a letra do velho tango, a luta popular pelo reconhecimento de seus direitos é cruel e é muita, mas é preciso não desistir, mantendo viva a esperança de vitória em cada batalha. Os remanescentes quilombolas da Timbaúba, no Ceará, retratam muito bem a perseverança na luta pela regularização do seu território.
A comunidade da Timbaúba é formada atualmente por cerca de 160 famílias e ocupa um território de 2.033ha, entre os Municípios de Coreaú e Moraújo. A despeito de já ser reconhecida como remanescente quilombola pela Fundação Palmares, o processo de regularização do território, em trâmite perante o INCRA, caminha a passos lentos, inviabilizando a implementação de vários projetos sociais. O último percalço foi a oposição do DNOCS à inclusão da área às margens do Açude da Volta na demarcação. Assim, o processo, que se encontrava em Brasília, teve de retornar a Fortaleza, ofertando como alternativas a concordância com a supressão da área do açude, como se não fosse preciso o acesso a uma fonte de água, ou o retorno de todo o procedimento praticamente à estaca zero.
A comunidade possui basicamente dois núcleos habitacionais: a Timbaúba de Baixo, onde reside a maioria das famílias, às margens do Açude da Volta, no território de Moraújo, e a Timbaúba de Cima, que reúne 16 famílias, já no território de Coreaú, no sopé da Serra da Meruoca, numa área de acesso relativamente difícil. A população sobrevive da agricultura de subsistência e do extrativismo vegetal, notadamente da carnaúba, além de benefícios sociais do Governo Federal. São preservadas tradições como o reisado e o leruá, a crença no curandeirismo e no Candomblé e hábitos como fumar no cacimbo e cozinhar em panela de barro.
A resistência quilombola da Timbaúba conta com poucos aliados e com bastante descaso do Poder Público. A indefinição do processo de regularização do território tem varrido de certo desânimo a comunidade e a tolerância aos apelos do consumo da civilização do homem branco é notória na vila. Ainda assim, a resistência dos Negros da Timbaúba permanece viva, mantendo acesa a chama libertária do velho Sabino, encontrado no alto da Meruoca, e de todos os escravos oriundos da fazenda do senhor Tito e adjacências.