quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Violência em Fortaleza: a equação da democracia social

Seria uma injustiça atribuir esse quadro de violência apenas às deficiências da Polícia
Um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica Aplicada do Ceará (Ipece) a partir de estatísticas da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) mapeou os bairros em que se concentraram os homicídios registrados em Fortaleza, em 2012. Dos 1.625 homicídios dolosos registrados em Fortaleza nesse período, 784 (48,25%) concentraram-se em 20 bairros.  
Ou, se ampliamos o raio, 73,23% dos assassinatos (1.190 mortes) concentram-se em 40 bairros dos 117 existentes na Capital. Na verdade, apenas dez bairros de Fortaleza não registraram nenhum homicídio: Amadeu Furtado, Bom Futuro, De Lourdes, Parreão, Salinas, Parque Araxá, Parque Manibura, São Bento, Coaçu e Guajeru.
Mais uma vez se constata que o problema é condicionado, sobretudo, pela iníqua realidade social. Os bairros nos quais a incidência de homicídio é elevada apresentam a menor faixa de renda média pessoal (entre R$ 239,25 e R$ 500). O estudo aponta quatro polos onde se registram as mortes violentas: Messejana, Siqueira, Praia do Futuro, Barra do Ceará e suas respectivas adjacências, todos de perfil socioeconômico semelhante. Suas populações somam entre 30 mil e 50 mil habitantes. Nas áreas das Regionais I, III e IV, salta à vista a incidência de vítimas entre 11 e 29 anos.
Não há dúvidas de que um policiamento mais competente (articulado com as comunidades) ajudaria a reduzir esses números. Mas seria uma injustiça (e um ludíbrio) atribuir esse quadro de violência apenas às deficiências da Polícia. A responsabilidade é do Estado brasileiro (incluindo aí as autoridades estaduais e municipais) e, sobretudo, dos eleitores, que elegem os responsáveis pelas opções políticas.
Claro, não se pode diluir a responsabilidade dos governantes e dos demais poderes constituídos. Mas é o eleitor que precisa escolher forças compromissadas (não retoricamente) com a mudança desse quadro e com coragem suficiente para enfrentar a resistência dos setores poderosos que querem manter o status quo.
Para que todos saiam ganhando, é preciso que alguns deixem de ganhar demais. Compatibilizar as liberdades democráticas com a democracia social e econômica é a forma de solucionar essa equação.
Fonte: o Povo