sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Sobral (CE) gasta mais de R$ 6 milhões numa Vila Olímpica


Vista da Vila Olímpica "Ciro Gomes" em Sobral (CE), que já consumiu 77% dos R$ 6,5 milhões previstos para toda a obra e homenageia pessoa viva, o que é ilegal. - Foto: Andreza Matais/Folha Press
Com a aproximação da Copa do Mundo a ser realizada no Brasil em 2014 e das Olimpíadas a serem realizadas no Rio de Janeiro em 2016 um grande número de críticas têm aparecido na mídia a respeito dos gastos necessários à realização destes eventos esportivos no nosso país. Algumas destas críticas são contundentes na medida em que contestam os dispêndios para a realização dos certames quando nosso país tem tanta carência na sua infra-estrutura social, seja na educação, como na saúde e na segurança pública. Só mesmo o contra-argumento de que tanto a Copa promovida pela Federação Internacional de Futebol Associação (FIFA) como as Olimpíadas promovida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) trazem retorno financeiro por se constituírem de atrativos de grande número de turistas e aficionados dos esportes e de proporcionarem significativa exposição do país e dos seus atrativos turísticos na mídia de todo o mundo.


Entretanto uma nação tem que estar preparada para realizar estes eventos nã0 somente do ponto de vista da infra-estrutura material tais como hotelaria, transporte,segurança e serviços como, também, no que refere à sua infra-estrutura esportiva. As Olimpíadas de Pequim, por exemplo, foi um evento que revelou ao mundo a China como uma nova potência olímpica. Por outro lado, ao promoverem o evento, os chineses mostraram admirável competência como promotores dos Jogos Olímpicos. O grande desafio para o Brasil será não somente ser bem sucedido do ponto de vista organizacional como, também, do ponto de vista esportivo de tal forma a ascender no ranking das nações praticantes dos esportes olímpicos e para isto terá que mostrar competitividade senão em todos mas, pelo menos na maioria das modalidades esportivas olímpicas.


A decepção que se pode antever para os brasileiros está no fato do nosso país ainda não ter tomado iniciativa de uma grande mobilização nacional no sentido de se preparar para ser uma nação competitiva nas modalidades olímpicas. Não cuidamos até agora de construir centros de treinamento de excelência esportiva. Dos esportes coletivos só o vôlei com o Centro de Treinamento em Saquarema (RJ) e futebol com a Granja Comari da CBF apresentam centros de treinamento em grau de excelência. Ainda recentemente César Cielo ,o nosso fenômeno da natação, reclamava que o Brasil só tem duas piscinas em grau de excelência para a prática deste esporte.


Tudo isto vem a propósito de uma vila olímpica que está sendo construída em Sobral no noroeste do Ceará. Não se condena a Prefeitura local ao construir esta vila olímpica mas o montante gasto no empreendimento muito elevado e a incerteza sobre as condições técnicas para a prática dos diversos esportes olímpicos nesta Vila suscitam preocupação. É que os recursos para os esportes são tão escassos que qualquer desperdício se torna preocupante. É que as prefeituras estão despreparadas para projetar e construir instalações esportivas para a prática dos esportes em nível “de ponta”. Não é qualquer piscina que se presta para a prática de natação de elevada performance, assim como não é qualquer pista de corrida que se presta para a prática de pedestrianismo em nível olímpico. É , portanto, necessária precaução com estas construções, especialmente quando elas são iniciavas municipais sob pena do escasso dinheiro para o investimento nas instalações esportivas compatíveis com nosso projeto olímpico se esvaír pelo ralo.


Didymo Borges
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Folha de S.Paulo – 23/01/2011
SOBRAL GASTA R$ 5 MILHÕES EM VILA OLÍMPICA “CIRO GOMES”


Ex-prefeito e atual ministro dos Portos é autor da homenagem, proibida por lei


Atual prefeito da cidade afirma que o local é uma "alternativa" caso o Rio de Janeiro não comporte as Olimpíadas de 2016
Andreza Matais/Folhapress




ANDREZA MATAIS
ENVIADA ESPECIAL A SOBRAL (CE)


Ministro dos Portos do governo Dilma Rousseff, Leônidas Cristino (PSB), quando prefeito de Sobral (CE), gastou R$ 5 milhões na construção de uma Vila Olímpica na cidade, obra que leva o nome de "Ministro Ciro Gomes".

Cristino deixou o cargo de prefeito em dezembro para assumir a pasta em Brasília sem concluir a obra -que vem sendo executada há cinco anos e já consumiu 77% dos recursos previstos.


O atual prefeito de Sobral, Veveu Arruda (PT), classifica a obra como "ousada" ou "uma alternativa caso o Rio de Janeiro não comporte os Jogos Olímpicos de 2016".


Os recursos para a Vila Olímpica saíram dos cofres municipal, estadual e federal. A maior parte, R$ 2,6 milhões, é proveniente de emendas ao Orçamento feitas por congressistas.


Durante a gestão de Cristino (2005-2010) foram construídos dois pequenos prédios com salas de aula, duas piscinas, uma plataforma para salto e arquibancadas. Os pedreiros colocaram peixes nas piscinas para preservar os azulejos, diante da falta de previsão para inaugurá-las.


PISO GUARDADO


O piso para a pista de atletismo também já foi comprado por R$ 1,1 milhão. Chegou de navio do Canadá no ano passado, a dois meses da eleição estadual. Está guardado numa sala, sem previsão para ser assentado.


Comprado com dispensa de licitação, é o mesmo usado nas pistas dos Jogos Pan Americanos de 2007.


A parte mais vistosa da Vila Olímpica é justamente o nome "Ministro Ciro Gomes", pintado no muro que cerca o terreno de 60 mil m2.


A homenagem ao padrinho político de Cristino é vedada pela Constituição -em obras públicas não podem "constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades e servidores públicos".


O juiz Jorge Di Ciero Miranda questiona a construção da Vila Olímpica: "É uma obra sem justificativa, sem transparência nem respeito ao cronograma."


Uma das empresas responsáveis pelo projeto, a Tecnocon Tecnologia em Construções Ltda., doou R$ 51 mil para a campanha de Cristino à reeleição em 2008.
Na cidade, a empresa é conhecida como "Tecnotudo" porque faz grande parte das obras do município. Nos últimos três anos, recebeu R$ 21,6 milhões da prefeitura.
No ministério de Dilma, Leônidas será responsável por um setor que movimenta 700 milhões de cargas por ano e representa 90% do comércio exterior do país.


METRÔ


Até o próximo ano, Sobral também deve ganhar um metrô. A cidade não conta com transporte público -os moradores dependem sobretudo de mototáxi. Mesmo assim, o governo Cid Gomes (PSB) abriu licitação para construir um metrô de superfície na cidade. Fortaleza, capital do Estado, ainda não tem metrô.


"O metrô é um absurdo. Aqui as ambulâncias são aquelas Paratys bem antigas. A Vila Olímpica é outro absurdo. A obra não sai porque o nome dado a ela é muito pesado", alfinetou o vereador Marco Prado (PSDB).