sexta-feira, 22 de junho de 2012

Carta à Dona Luiza

São Paulo, 20 de junho de 2012
Dona Luiza,
Sempre fui uma grande admiradora da senhora. Mulher de personalidade forte, paraibana tipicamente corajosa, que veio para São Paulo conquistar espaços inimagináveis para uma retirante nordestina. Elegeu-se prefeita de uma das maiores cidades do mundo, terceira maior economia da nação, espelho do conservadorismo e da concentração e riquezas. Por certo realizou uma das duas melhores administrações que São Paulo experimentou.
Sou paulistana, nascida e criada na periferia da zona sul, como cantaram os Racionais MC’s. Eu tinha apenas três anos de idade quando a senhora administrou São Paulo. Ouço, admirada, as histórias que contam os moradores das casas construídas a partir dos mutirões, importante exemplo exitoso de política habitacional.
Sinto orgulho quando profissionais da rede municipal de ensino falam de uma gestão que aumentou salários, promoveu cursos de capacitação, ampliou a distribuição e qualidade da merenda escolar, criou o MOVA (Movimentos de Alfabetização, centros de alfabetização e instrução de adultos) e ofereceu para a nossa cidade um projeto para a educação de qualidade.
Imagino, com profunda admiração, uma gestão que reuniu Paulo Freire, Mário Sérgio Cortella e Marilena Chauí. Uma gestão com a marca do PT: governar para os mais pobres.
Acho lindo quando converso com eleitores da senhora que até podem estar incertos quanto aos votos para o executivo, mas anotam previamente na famosa “colinha” o número de sua candidatura, convictos ideologicamente de que a senhora lhes representará com a grandeza e competência que se espera dos grandes nomes da política nacional brasileira.
Devo confessar, Dona Luiza, que meu coração bateu mais forte com o anúncio de sua vinda para a chapa que o PT apresentaria à sociedade para a disputa da prefeitura de São Paulo em 2012. Senti nesta notícia o primeiro grande acerto da pré-campanha, pois uma onda de esperança, alegria e motivação invadiu o coração da nossa militância, dos mais simples e humildes filiados aos dirigentes que dão a linha na nossa organização. Era o que faltava para empunharmos nossas bandeiras e soltar o grito, com toda a nossa voz, que São Paulo pode mais.
Só que aí o inimaginável aconteceu.
Muita gente aponta o dedo na cara dos petistas para dizer que a senhora foi uma grande perda para o nosso partido. Mas a decisão de nos deixar infelizmente foi sua. Confesso que, em minha opinião, foi acertada a decisão da direção nacional do PT em suspender temporariamente seus direitos e deveres partidários como punição por desrespeitar uma orientação partidária. A senhora, no auge de sua independência, optou por compor o governo Itamar Franco, o qual eramos oposição. Poxa, Dona Luiza, aprendemos desde sempre no PT que o partido deve ser maior do que nós e que, independente de nosso prestígio, devemos nos submeter às decisões coletivas.
Dona Luiza, eu não gosto do Paulo Maluf. Vejo na atuação deste homem o que há de pior na política brasileira, um escroque e picareta. Também não fiquei feliz em ver Lula e Haddad ao lado de Maluf. Mas se tem uma coisa da qual tenho convicção, Dona Luiza, é que São Paulo precisa de um programa de governo ousado, arejado, transformador que só pode ser construído pelas mãos daqueles que são capazes de enxergar à frente e não dar ouvidos para a imprensa. Não recuamos e não recuaremos em nosso programa, e isso é o fundamental.
Fiquei pensando, Dona Luiza, nas coisas que a senhora teria dito ao abdicar da condição de vice-prefeita na chapa do PT. Daí acabei me lembrando do governo tucano de Geraldo Alckmin, marca do conservadorismo, do aprofundamento da pobreza e do desgoverno para aqueles que mais precisam das políticas sociais, mas que seu partido, o PSB, compõe desde o primeiro ano. Lembrei também do prefeito Gilberto Kassab (PSD), um exemplo descarado de truculência, omissão com a cidade e descaso com a população, e que seu partido também faz parte da gestão.
Eu só queria entender se a senhora se sente confortável com isso, Dona Luiza.
A senhora, à parte todos os méritos de sua personalidade e vida pública, provou, mais uma vez, que seus projetos individuais são mais importantes que a construção coletiva. Vamos nos recompor, Dona Luiza. Se sua vinda para a chapa nos deu o gás de ganhar, sua saída nos deixou ainda mais motivados a não perder.
Pena que a senhora não pôde compreender que está em jogo um novo projeto para a nossa cidade. Pena que a senhora entendeu que estamos apresentando para São Paulo um projeto que não se resume a uma pessoa. Pena mesmo. São Paulo é maior que as picuinhas, Dona Luiza, espero que a senhora não acredite que tem idade demais para se convencer disso.
Queria compartilhar com a senhora, dona Luiza, o que me deixa desconfortável. A hipocrisia, a instabilidade e a falta de compromisso.
Seguimos na luta.
DEBORA PEREIRA